sexta-feira, outubro 26, 2007

CARTA DE RESPOSTA AOS MEIOS DE COMUNICAÇÃO E À SOCIEDADE SOBRE OS TRÁGICOS FATOS OCORRIDOS EM 14/10/2007 E 21/10/2007




Diante dos terríveis acontecimentos ocorridos nos últimos meses envolvendo supostos punks nós, do Movimento Anarco-Punk, de São Paulo, vimos a necessidade de retratar, relatar e nos posicionar diante destes fatos. Estes últimos acontecimentos são fruto de uma gama de fatores sociais e políticos que acabam por se completar com o grande “show de horrores” divulgados pelas grandes corporações midiáticas. Nós, do Movimento Anarco-Punk de São Paulo, repudiamos estes atos, estas ações não são baseadas e não tem a mínima ligação com a cultura, política e filosofia de vida punks, para nós esta é uma deturpação de nossos princípios, que com o apoio e ampla divulgação dos tendenciosos meios de comunicação de massa vem minando os poucos focos de luta e resistência popular punk.

As idéias e ações punks sempre estiveram ligadas à mudança radical do sistema social no qual vivemos, desde nossas músicas, nossa estética, nossas manifestações, nossos rolês nas ruas das periferias, enfim, nossa forma de viver, interagir e enxergar o mundo. Estes ocorridos, são atos extremos e intolerantes que com ou sem motivos plausíveis, não se justificam, vidas não podem ter valores, não se agrega preços ou importância, são vidas! Logo, tendo em vista todos os esforços que, nós anarco-punks temos empenhado dentro de nossa longa história por reconhecimento da vida e para sentir em sua forma mais intensa a importância da vida e dos direitos dos seres vivos, não podemos ser coniventes com atitudes que apenas deturpam nossa militância e nossos ideais. Para nós o que vimos é um show de forças estrelado por pessoas alienadas pelo modo de vida capitalista que não percebem que apenas estão fazendo o jogo do sistema, ou seja, o povo colocado contra o povo e estão, assim, se digladiando e se acabando, enquanto uma minoria goza de todos os prazeres da vida em nossas costas. Estes não são atos de indivíduos punks, essas pessoas não tem a mínima percepção e/ou relação com o que é a cultura punk, não podem estar ligados a nós pois são atitudes totalmente opostas àquilo que buscamos, que é o respeito as diferenças, a tolerância, e um mundo igualitário entre os diferentes.

Nós, anarco-punks, não somos a favor e não propagamos a violência, sabemos que esta é uma armadilha do sistema para justificar sua existência e destruir o povo, por outro lado vivemos em meio a uma onda de violência extrema, em uma sociedade que promove o consumismo, a competição e a ganância. Fatos de violência extrema e radicalismos levianos são amplamente divulgados e insinuados pela mídia, isso pode ser um ponto que começa a esclarecer o porquê de atos como estes ocorrem; fatos como estes ocorridos com pessoas que são erroneamente taxadas de punks ocorrem todos os dias por toda periferia de São Paulo e viram mera estatística. Pessoas exterminam-se como em uma guerra e nada é feito pelos governantes parasitas e burocratas acomodados, por isso afirmamos que a luta punk é a favor do povo e contra o estado, a burguesia e os defensores deste e outros regimes totalitários: buscamos a liberdade e não a opressão!

Todos sabem que o movimento punk tem uma origem de luta e resistência contra o sistema, uma quebra de valores sociais e morais; é inegável a militância e reconhecimento de punks dentro de movimentos sociais não como baderneiros, mas como aliados dentro dos interesses revolucionários. Este fato pode ser comprovado junto ao movimento negro, movimento gay, movimentos de luta por moradia entre outros, logo, não podemos aceitar que estes acontecimentos radicais e extremos sejam levados como verdade absoluta com relação ao movimento punk, nossa história fala por ela mesma, nossa luta é contra o sistema e não contra o povo.

Não é de hoje que nós punks somos atacados e deturpados pela tendenciosa mídia corporativa, desde o início da década de 80 sentimos e resistimos a este problema. O que no início gerou uma grande queda no movimento, atualmente é utilizado como mera manchete, da forma mais barata e tendenciosa possível. A cooptação do punk pelo sistema tornou fatos terríveis como estes notícias de extremo valor para o grande círculo midiático corporativo, colocando pessoas como meras personagens secundárias, pois o importante é o sangue e a violência e não o que gerou estes atos. No entanto, quando explanamos isso, não falamos de algo superficial como esta mídia tem abordado estes casos, falamos de algo muito mais profundo, como em que condições diárias estão colocados trabalhadores e trabalhadoras, estudantes, senhores e senhoras; que fatos do cotidiano levaram a estes atos? Pois nada acontece de uma hora para outra... Em quais condições sociais sobrevivem? Talvez estas sejam perguntas para as quais muitos saibam as respostas, sabemos, porém, que dificilmente iremos escutá-las de boa fé.

Não defendemos e nunca apoiaremos estes atos de violência, mas o que questionamos é a forma mentirosa como eles são divulgados, colocando vítimas como mártires e agressores como carrascos da época do império romano, tudo para finalizar uma “boa” notícia que mais parece uma peça de teatro, mas com isso nós perguntamos: quantas vidas são necessárias para uma “boa” manchete? Fazemos também a mesma pergunta que foi feita a um dono de uma corporação transnacional, “quantos milhões são necessários para satisfazer seu ego”?

Enquanto pessoas morrem nas ruas das periferias e o sangue escorre para o asfalto desta grande metrópole que é São Paulo nós, punks, resistiremos a toda a deturpação e ataque deste sistema à nossa cultura de luta e resistência popular, fatos como os acontecidos são, para nós, de extremo repúdio e horror, fruto de pessoas mal informadas e vitimadas pelo parasitismo social que este sistema impõe aos indivíduos. Estamos sentidos pelas vítimas destes atos, pessoas pobres que assim como nós, lutam para sobreviver dentro deste sistema opressor e indignamo-nos com as pessoas que executaram estas ações de extrema intolerância e violência. Continuamos na luta por mudanças e pela revolução social e contra toda e qualquer forma de fascismo e intolerância, sejam estes institucionais ou individuais.

Sem mais e com sentimentos às vitimas,

MOVIMENTO ANARCO-PUNK de SÃO PAULO (M.A.P. - SP)

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